Túmulos de famosos recebem “biografia tecnológica” no cemitério da consolação


Parceria com start-up leva à instalação de QR Codes e etiquetas NFC em lápides de personalidades paulistanas

Túmulos de famosos recebem “biografia tecnológica” no cemitério da consolação

“Meu sonho é que este museu a céu aberto passe a ser visto realmente desta forma. É um lugar que guarda boa parte da história de São Paulo”. Mais conhecido como Popó, Francivaldo Gomes, 47 anos, se orgulha do local que administra, o Cemitério da Consolação, na região central de São Paulo. Mais do que isso, tem gosto de ver como neste início de ano obteve conquistas importantes, como o aumento da segurança na área e a instalação de novidades que fortalecem a necrópole como ponto turístico da capital paulista.

“É o que propõe uma parceria entre a start-up Memoriall e o Serviço Funeral do município. Desde o início do ano, tags de aço de QR Codes (código de barras que, escaneado por um aparelho celular, leva o usuário a um endereço de internet específico) têm sido instaladas em túmulos de importantes nomes como o ator Paulo Goulart, o jornalista Cásper Líbero e o estadista José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido como o patriarca da República brasileira. O objetivo é reforçar a experiência de visitação oferecida pelo também guia turístico Popó, que duas vezes por semana oferece passeios gratuitos pelo local.

“ “Quando o Popó faz a visitação, ele consegue passar por no máximo uns dez túmulos. Mas o número de personalidades com as quais o público pode ter contato no Consolação é mais de dez vezes maior. Com as tags, o visitante tem a oportunidade de adquirir conhecimento sobre todas elas”, explica Ricardo Marques, co-fundador da Memoriall, pequena empresa responsável pela doação dos códigos ao cemitério. “A ideia é trazer as pessoas ao Consolação. Colocamos localização nas ruas, fizemos um mapa, fotografamos os túmulos. Se o visitante vai lá hoje ele se guia sozinho.”

“Inicialmente estão previstas as instalações de tags em 110 túmulos do Consolação. E impressiona como os nomes dos enterrados no local se confundem com a própria história paulistana. Presidente do São Paulo Futebol Clube no período em que a agremiação construía o Estádio do Morumbi – posteriormente batizado com seu nome –, Cícero Pompeu de Toledo se encontra no terreno T35 da rua R04; o Conde Francisco Matarazzo, morto em 1937 na condição de homem mais rico do Brasil, no T12 da Q82; o sanitarista Emílio Ribas, criador do Instituto Butantan, no T8 da Q1A.

“Popó faz brincadeira com a popularidade dos ilustres que descansam no terreno administrado por ele. “Fale o nome de alguma rua de São Paulo. Qualquer uma”, desafia. “José Maria Lisboa [nome de via no bairro Jardim Paulista]? Está logo ali, terreno T10 da rua Q29. Foi eminente jornalista, fundador do ‘Diário de São Paulo’. Ricardo Jaffet [nome de importante avenida no bairro do Ipiranga]? Está aqui, no terreno T12, rua R37. Foi presidente do Banco do Brasil durante o governo de Getúlio Vargas, de janeiro de 1951 a janeiro de 1953.”

“Até o momento, 63 túmulos do Consolação receberam QR Codes – outros 47 devem ser instalados nos locais previstos até o mês de abril. Além das tags em aço, também serão colocadas nas lápides etiquetas NFC (Near Field Communication), que permitem abrir a biografia apenas aproximando o celular. Com a leitura, o usuário pode acessar a história do morto, ver fotos, árvore genealógica, vídeos, entre outras curiosidades.

“ “O perfil de cada homenageado é baseado na história existente por algumas fontes e também por informações fornecidas por familiares. Como exemplo, Olivia Guedes Penteado [criadora do Salão de Arte Moderna de São Paulo], que teve seus dados fornecidos por um sobrinho”, explica o Serviço Funerário paulista. “As famílias também têm o acesso para editar o perfil e contar a história de seu ente querido.”

“Apesar de ser o primeiro cemitério da capital paulista a contar com a tecnologia, as tags já foram instaladas em outras necrópoles do Estado – Embu das Artes e Guarulhos – e no Rio de Janeiro. Pessoas interessadas em homenagear familiares e amigos com tags em seus túmulos ou mesmo de contar sua própria história para ser colocada na própria lápide após sua morte podem fazê-lo a partir de R$ 250.

“A inspiração para a ideia foram cemitérios no Japão e na China, que já contam com a tecnologia. “Com algumas diferenças, pois também oferecemos livros sobre o falecido, além de guardarmos vídeos ou segredos para serem mostrados aos entes queridos depois do falecimento”, diz Marques, da Memoriall. A ideia, agora, é transformar o projeto-piloto em ação em outros cemitérios de personalidades, como o São Paulo e o Araçá, na zona oeste paulistana.

“ “Nem o Père-Lachaise [uma das mais famosas necrópoles do mundo, localizada em Paris] tem essas tags ainda”, se gaba Popó. “O cemitério da Consolação e a cidade de São Paulo merecem conservar e espalhar sua história.”

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2015-03-07/tumulos-de-famosos-recebem-biografia-tecnologica-no-cemiterio-da-consolacao.html

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